Com medo de civid_19 , indígenas usam correntes para fechar aldeia no beco interior do Acre


Imagem  enviado por indígenas mostra correntes na entrada de aldeia para impedir visitas e saídas dos índios em aldeia Mâncio Lima.

Por Gledisson Albano, Jornal do Acre 2ª Edição
Índios da etnia Puyanawa, na região do município de Mâncio Lima, interior do Acre, resolveram “fechar” a aldeia com correntes para evitar a contaminação do povo pelo novo coronavírus.

O objetivo é evitar a entrada de não indígenas e de indígenas no local.

A baixa imunidade de povos indígenas é a maior preocupação das autoridades. A orientação é para que os índios não se desloquem aos centros urbanos e que as aldeias não recebam visitantes.

A corrente atravessando a estrada de acesso à aldeia Puyanawa é a demonstração de que ninguém entra e nem saí.

Em um vídeo enviado à Rede Amazônica Acre, o cacique Luiz Puyanawa afirmou que a medida é em prol da saúde do povo. Nas imagens, os indígenas aparecem do outro de uma corrente. O fechamento ocorreu ainda na quarta-feira (25).

“Isso é uma proteção para as pessoas não entrarem. É em prol da vida, da saúde do povo. Estamos em uma situação ruim no Brasil e contamos com a compreensão das pessoas", pediu.

Fechamento

A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que o fechamento oficial das aldeias, proibindo a entrada de outras pessoas, foi feita no último dia 18, após a publicação de uma portaria que suspendeu todas as autorizações de visitas.

Mas, o coordenador Regional Funai no Juruá, Marco Antônio, disse que, mesmo após a decisão, estrangeiros ainda entraram em aldeias de forma ilegal.

“Proibimos a entrada de não indígenas nas terras da Funai. Porém, anteriormente já tínhamos feito essa prevenção e tínhamos bloqueado a entrada e não emitimos a entrada de visitantes nacionais e internacionais. Isso com um acordo feito com as lideranças indígenas, que contamos com o apoio. Isso está sendo monitorado e quando isso acontece, como já aconteceu, retiramos esses não indígenas”, explicou.

O coordenador acrescentou que, atualmente, não há casos suspeitos e nem sob investigação nas terras indígenas. “Fizeram exames em duas crianças, que deram negativo. Nosso índice de contaminação é zero. Dentro do Juruá, a contaminação do povo indígena é zero”, disse.

Prevenção

Um plano de contingência para o período de pandemia do novo coronavírus foi elaborado. Equipes do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Juruá orientam lideranças e os indígenas sobre a importância de manter todos os cuidados e evitar viagens.

“Desde o dia 28 de janeiro que estamos sendo orientados pelo Ministério da Saúde de todas as condutas que devemos tomar. Foi criado um plano de contingência para direcionar nossas ações. Esse plano foi construído junto às lideranças e conselhos, que eles que estão na ponta e fazem a conscientização de entrada e saída de pessoas que não moram nas aldeias”, ressaltou a coordenadora do Dsei Alto Rio Juruá, Iglê Monte.

Fazendo parte do plano de contingência, tendas foram montadas ao lado da Casai em Mâncio Lima. Indígenas que estão fora do estado e que chegam de regiões e apresentarem algum sintoma da doença devem ficar em quarentena fora da aldeia.

“Nossa preocupação é muito grande por trabalhar com um público vulnerável social, de saúde e também por ser uma cultura muito forte da língua. Tivemos toda essa preocupação. Trabalhamos com 18 mil indígenas, 14 etnias, e o mais importante é saber que estão colaborando e entendem a importância de manter isso”, frisou.

Ainda segundo a coordenadora, nos últimos dias, mensagens falsas e preconceituosas foram divulgadas nas redes sociais afirmando que indígenas na região estariam com a doença.

Iglê confirmou que na região do Juruá dois indígenas fizeram exames para a doença, mas foram descartados para o novo coronavírus. A coordenadora garantiu que as equipes estão montando estruturas de prevenção para que a doença não chegue das aldeias.

“Montamos toda uma estrutura dentro das nossas limitações com relação a prevenção. Trabalhamos a atenção básica, que é oferecida dentro das aldeias. Temos pacientes que recebem atendimentos de alta e média complexidade e muitos deles se estendem até o município de Cruzeiro do Sul. Temos toda preocupação para caso essa doença chegar aqui termos uma logística para atender”, concluiu.

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