Ele é suspeito de liderar quadrilha que furtou 15 mil testes de coronavírus e 2 milhões de equipamentos de proteção individual; siga o caminho da carga supostamente roubada até a Associação Shangai no Brasil
13/04/2020 - 12:41
Marcos Zheng (Foto: Palácio dos Bandeirantes)
Estadão Conteúdo
“Trata-se de um cidadão do bem e contribuiu de forma significativa para estabelecer o laço de amizade entre Brasil e China”. A declaração, em papel timbrado, é da Associação Chinesa do Brasil sobre seu vice-presidente, Zheng Xiao Yun, ou Marcos Zheng, que está preso sob a suspeita de liderar uma quadrilha flagrada e presa com 15 mil testes de coronavírus e dois milhões de equipamentos de prevenção roubados.
Ele já foi sequestrado, viu uma secretária morrer a tiros, e também se livrou de uma condenação por supostamente trazer relógios falsificados para o Brasil. De outro lado, intermediou encontros de banqueiros e empresários chineses no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo Paulista, e também com outros políticos. Diz ele ter feito a ligação entre a Saúde do governo João Doria (PSDB) com hospitais e médicos de Wuhan – cidade chinesa onde a pandemia se originou – para troca de informações sobre a covid-19.
Seus guarda-costas são um policial militar e um sargento da reserva do Exército Brasileiro. Fortemente armados. Com eles, foram encontrados um fuzil e uma carabina ponto quarenta. Ele diz que precisa de proteção, já que experimentou cinco dias em um cativeiro, foi roubado, e ainda escapou de uma emboscada a tiros.
Os milhares de testes, cujo lote bate com o de uma carga surrupiada no Aeroporto de Guarulhos, estavam em seu imóvel, onde também funciona a Associação de Xangai no Brasil. Presidida por ele, a entidade é seu cartão de visitas nos encontros que já promoveu entre empresários e políticos.
Alega Zheng nunca ter lidado com material de higiene, muito menos sem origem, e que seu negócio é com equipamentos de som. E, que por meio da entidade, já promoveu a venda de produtos brasileiros pelo governo Chinês, e também a remessa de itens de seu país de origem para ‘venda e doação no Brasil’ – tudo com nota fiscal.
A versão, dada à Polícia Civil, não convenceu, e ele foi preso em flagrante. Um dia depois, também não convenceu o Ministério Público e a Justiça, que decretou sua prisão por tempo indeterminado.
A juíza que decretou a prisão preventiva vê ‘audácia’ na atuação de Zheng e de outros 13 presos neste sábado, com a venda de equipamentos roubados, que abasteceriam hospitais em um país à beira da superlotação em seu sistema de Saúde, com 22.169 infectados pela pandemia que já matou 1.223 pessoas até este domingo, 13.
O Estado obteve acesso exclusivo à investigação que levou à cadeia o grupo supostamente liderado por Zheng, desde o sumiço dos testes rápidos até a prisão sem prazo para saída. Comparando os preço pago pela importadora, e o pedido inicial dos investigados pela carga, o lucro seria de 5.000% para o crime.
O roubo dos testes
No dia 2, um voo da Qatar Airways chegou ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, com 57 pacotes de testes rápidos de coronavírus importados da China por uma empresa contratada por hospitais para fornecer os itens.
Tudo ficou, como usual, armazenado no terminal de Cargas Internacionais, e os volumes foram retirados para o depósito de uma transportadora no bairro de Santana, na Zona Norte da Capital, quatro dias depois.
No dia 8, quando os produtos a carga passou por uma revisão, os funcionários descobriram que 15 caixas de papelão haviam sido esvaziadas, e encaixadas na parte externa de outras 15, com os testes – muito provavelmente, para encobrir o desvio.
Para cada caixa, mil testes de coronavírus eram armazenados. Ou seja, 15 mil sumiram. A empresa estipula que o valor do material surripiado seja de R$ 80 mil.
O Boletim de Ocorrência data da manhã deste sábado, 11, na delegacia.
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