Itaan Arruda (Foto: TV Gazeta)
Usinas de Rondônia prometem mudar cenário na concorrência
Economista e pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) questionam a informação de que a safra de castanha deste ano será a metade do que foi produzido em 2016.
“Fisiologicamente, as plantas precisam se recuperar de um ano muito seco para o outro. E o ano passado foi, de fato, um ano seco, difícil. Mas, ainda é muito cedo para afirmar que a produtividade será tão baixa”, pondera a pesquisadora da Embrapa Rondônia, Lúcia Wadt.
A pesquisadora fazia parte dos quadros da Embrapa Acre. Foi transferida recentemente para Rondônia, mas ainda desenvolve estudos aqui na região. Um dos locais é o seringal Cachoeira. Lá, existe um projeto de manejo madeireiro em execução.
“Iniciamos um estudo na área do Seringal Cachoeira em 2010 e constatamos que a produtividade das castanheiras, mesmo em áreas de manejo madeireiro, é boa, não fica comprometida”, rebate. “Agora, no pasto, a produtividade é baixa, sim”.
A pesquisa constatou que uma castanheira, mesmo em área manejada, chega a produzir 1,5 lata de castanha. Para se chegar a essa média, a pesquisa leva em conta todas as castanheiras de uma determinada área, incluindo as improdutivas.
Outra contestação feita pela pesquisadora diz respeito à polinização. Mesmo em áreas de manejo madeireiro (ou mesmo de pastagem), 25 espécies abelhas conseguem realizar a polinização das castanheiras. Os pesquisadores chamam todo o processo de “fluxo gênico”.
O único fator de consenso entre produtores e pesquisadores a respeito da queda na produtividade das castanheiras é a variação climática. Geralmente, um ano muito seco traz consequências para baixa produtividade por uma ou duas safras.
“Deixa livre. Deixa comunicar”, sugere economista
O economista da Embrapa Acre Márcio Muniz Albano Bayma defende intervenção mínima do Estado no comércio da castanha.
“Não adianta vender a ideia de que teremos a menor safra já registrada para pressionar o Governo a pautar a comercialização do produto”, sugere Bayma. “O negócio é deixar livre. Deixa comunicar. Deixa o mercado ditar o fluxo”.
Alguns técnicos do Governo do Acre ouvidos pelo site AGazeta.Net também defendem a intervenção mínima. São categóricos em reconhecer que as usinas de beneficiamento de castanha da Bolívia e do Peru acabam ditando o preço.
Nos últimos seis anos, o Peru importou 15,10 mil toneladas de castanha do Acre. Em 2016, por exemplo, as usinas peruanas pagaram US$ 1,08 por quilo de castanha com casca. Foi o mais alto preço já pago no período analisado pela Embrapa.
A Bolívia não fica atrás. Em seis anos, comprou 27,19 mil toneladas de castanha com casca. Como comprou mais, negociou a um preço mais baixo. Ano passado, pagou US$ 0,81.
O que o economista da Embrapa questiona é: se o Estado pautar o produto para “proteger” a Cooperacre pode ocorrer efeito indesejado, com aumento da oferta do produto no mercado interno com consequente impacto negativo no preço da lata.
Atualmente, são cinco empresas acrianas que mantêm comércio da castanha, seja vendendo o produto beneficiado ou comprando de outros estados o produto com casca para beneficiar aqui.
Mais concorrência
Para complicar o cenário de concorrência, outras duas usinas de beneficiamento de castanha serão instaladas em Rondônia. Possivelmente, parte da castanha hoje comprada do Acre será absorvida após o Rio Madeira.
Há uma limitação por parte de quem avalia o mercado de observar as “usinas bolivianas” apenas se restringindo à região do Vale do Alto Acre, quando na verdade a fronteira dos patrícios se estende por Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
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