Falta de vacinação expõe cidades de Minas Gerais á febre amarela


Há quase uma década na área de vacinação recomendada pelo Ministério da Saúde, cidades de Minas Gerais ignoraram evidências sobre o avanço da febre amarela no país e deixaram metade da população exposta ao vírus. Apenas 49,7% da população do Estado foi imunizada nos últimos dez anos, período de validade da vacina.

O alto índice de pessoas suscetíveis à doença é uma das explicações para o surto no Estado, que tem a maior parte dos registros da doença no Brasil. Desde o início deste ano, são 69 casos e 38 óbitos em 18 municípios. Há ainda 397 pacientes sob análise.

Outros três casos foram confirmados em São Paulo e um no Espírito Santo. Com 73 registros, o país tem o maior surto da doença desde 2000 –naquele ano, foram 85. A cobertura vacinal do país é de 62,8%, chegando a índices maiores em alguns Estados na área de recomendação da vacina, como Roraima (99,7%) e Goiás (91,2%).

Os limites dessa área foram ampliados ao longo do tempo, mas incluem todas as cidades de Minas desde 2008 (veja mapa abaixo).
Infográfico: Municípios com notificações de febre amarela

Antes do atual surto, o Estado havia registrado seu último caso em 2009. Há três anos, porém, boletins do Ministério da Saúde alertam para a importância de reforçar ações de prevenção, diante de casos em macacos e humanos no país.

"A intensa atividade viral registrada no país durante o período de monitoramento 2014/2015, sobretudo em polos turísticos, coloca em alerta os sistemas de vigilância, no sentido de antecipar a resposta e prevenir a ocorrência da doença em humanos", afirma boletim epidemiológico do Ministério da Saúde divulgado em 2015.

Sem a precaução recomendada, o vírus encontrou terreno fértil para se espalhar. "A proliferação de casos está ligada à baixa cobertura vacinal", diz o pesquisador Pedro Tauil, professor da UnB (Universidade de Brasília).

Secretário de Saúde de Caratinga, a 311 km de Belo Horizonte, Giovani Corrêa da Silva reconhece o problema. "É preciso ter campanhas envolvendo todas as esferas disponíveis. A vacina sempre esteve disponível, mas faltava um estímulo para as pessoas se vacinarem", diz.

A cidade tem, desde o início do ano, sete casos confirmados e 82 em investigação. Para conter a doença, equipes abordam de casa em casa moradores da zonas rurais, onde está o mosquito transmissor da doença, para aumentar a cobertura vacinal. De acordo com especialistas, para garantir um controle do vírus, é preciso atingir um índice de imunização de ao menos 80% da população.

Em Ipanema, cidade próxima a Caratinga, essa taxa não chegava a um terço antes do surto. Desde o início do ano, o município tem seis casos confirmados e 15 sob análise. Para Weverton Medeiros Rodrigues, diretor de Saúde do município, a baixa procura pela imunização é uma "questão cultural". "Quem vacina mais é criança e idoso. Na faixa intermediária, as pessoas acabam esquecendo", afirma.

Em Minas, 88% dos infectados atualmente são homens com idades entre 30 e 55 anos, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde.

Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, diz que, de fato, é um desafio a vacinação da população adulta, que vai menos ao médico. Garantir que isso aconteça, porém, é fundamental para evitar que o vírus da febre amarela, hoje concentrado em áreas silvestres, circule nas cidades.

REFORÇO NA VACINA

Diante do surto, o Ministério da Saúde anunciou nesta quarta (25) que reforçará a distribuição da vacina em 11,5 milhões de doses.

De acordo com o diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis, Eduardo Hage, já foram distribuídas 5,4 milhões de doses extras da vacina para Minas Gerais, Rio, Espírito Santo, São Paulo e Bahia.

Sobre os índices de cobertura vacinal, a pasta diz que não houve falta de doses. "Cabe ressaltar que a vacina contra febre amarela está disponível na rotina do calendário nacional de vacinação nas salas de vacina do país, conforme a organização de cada Secretaria Municipal de Saúde."

O ministério afirma ainda que os casos podem estar ligados à baixa adesão à vacinação pelos adultos, especialmente os homens, e à dificuldade de mobilidade da população que mora em áreas rurais, principalmente próximas às matas.


Folha de S.Paulo

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