A Polícia Federal desarticulou uma rede de grupos criminosos suspeitos de levar mais de seis toneladas de cocaína para a Europa em um ano pelo porto de Santos. O esquema envolvia membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) e mafiosos da Sérvia.
As operações da quadrilha foram descobertas pela Polícia Federal com ajuda da DEA, a agência americana de combate ao narcotráfico. Nesta segunda-feira (04), a Operação Brabo, da PF, prendeu 80 suspeitos de participação no esquema.
O papel dos membros do PCC era trazer a cocaína da Colômbia, do Peru e da Bolívia até o porto de Santos e tentar colocá-la em navios cargueiros. Grupos sérvios então faziam o desembarque e a distribuição do entorpecente da Europa.
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, a polícia disse acreditar que a rede era responsável por 5,9 toneladas de cocaína que foram apreendidas nos portos de Santos (SP), Salvador (BA) e Itajaí (SC) e também em portos da Bélgica, Inglaterra, Itália e Espanha.
Cada quilo da droga com índice de pureza de 90% com era revendido na Europa por ao menos 25 mil euros, segundo o delegado da PF Fabrízio Galli.
Com os traficantes a polícia apreendeu carros de luxo das marcas Mercedes, Audi e BMW. Os investigadores chegaram investigar que o grupo estaria negociando a compra de um imóvel de de alto padrão em um condomínio de luxo na Grande São Paulo.
Células
"Os criminosos atuavam como se fossem um consórcio: vários grupos investiam em um carregamento, se ele fosse apreendido não perdiam tanto dinheiro", afirmou.
Segundo Galli, os criminosos ligados ao PCC não atuavam de forma "institucional", ou seja, não agiam a mando da cúpula da facção, mas de forma individual. Porém, uma porcentagem do "lucro" da operação era usada para custear a organização criminosa. "Eles usavam a estrutura da organização. O mesmo acontecia com as quadrilhas estrangeiras".
Segundo o delegado Agnaldo Mendonça Alves, da PF, dois criminosos sérvios foram presos no Brasil. Eles haviam se mudado para o país e constituído família brasileira, para tentar chamar menos atenção das autoridades. "Eles demonstraram a intenção de ficar no país, criaram novos contatos e então fizeram contato com suas conexões na Europa", disse o delegado.
Segundo a PF, as ramificações sérvia e brasileira da rede agiam em forma de células. "Dentro dessa estrutura não havia uma célula principal. Alguns elementos flutuavam em várias dessas células fazendo negócios com várias pessoas, era uma estrutura horizontalizada", disse o Delegado Rodrigo de Campos Costa.
Os policiais chegaram ao grupo criminoso ao investigar cinco apreensões de cocaína específicas realizadas entre agosto de 2015 e julho de 2016. Três foram realizadas em Santos e outras duas, na Rússia – em navios que haviam partido do porto paulista. Essas remessas totalizavam 2,1 toneladas de cocaína.
A droga vinha de países produtores como Bolívia e Colômbia e entrava no Brasil pela fronteira com o Paraguai. Depois era transportada especialmente por rodovias até São Paulo, onde ficava armazenada até ser escondida em navios que partiam para a Europa.
O Brasil está em uma das principais rotas de tráfico de cocaína da Bolívia, do Peru e da Colômbia para a Europa. A droga passa pelo país escondida em carros e caminhões até os portos, de onde é embarcada para cidades na África e, depois, para a Europa.
A operação envolveu 820 policiais encarregados de cumprir 120 mandados de prisão preventiva e 7 mandados de prisão temporária nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Até as 15h desta segunda-feira 80 pessoas haviam sido presas.
Entre os suspeitos investigados estão 28 brasileiros ligados ao porto de Santos ou a empresas terceirizadas que operam lá. Eles são suspeitos de terem facilitado as operações da quadrilha.
Estivadores e trabalhadores ligados ao porto são suspeitos de entrar com drogas nos navios. Já dentro da embarcação, as drogas seriam escondidas em contêineres. O objetivo do esquema era burlar a fiscalização feita com raio-x em todos os contêineres antes deles serem colocados nos navios.
Outra forma de embarque clandestino de drogas acontecia quando pequenas embarcações se aproximavam dos navios já no mar, após a saída do porto. A cocaína era então puxada com cordas por marinheiros cooptados para dentro dos cargueiros.
Lavagem de dinheiro
A Polícia Federal investigará agora como o dinheiro da venda das drogas na Europa entrava no Brasil. A principal suspeita é que os pagamentos aos traficantes brasileiros eram feito em espécie por meio de doleiros.
A investigação deve ter desdobramentos ainda sobre como era feita a lavagem do dinheiro no país.
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