Delegado e polícias são investigados por torturar e estrupar jovem com Barra de ferro dentro de delegacia em Rio Branco


Redação Folha do Acre
O Ministério Público do Acre (MP-AC) ofereceu denúncia contra o delegado de Polícia Civil Karlesso Nespoli e nove policiais por torturar e estuprar um jovem dentro da Delegacia de Investigações Criminais (DIC), em Rio Branco.

O caso ocorreu em 5 de setembro de 2016 na Travessa Beco Morada do Sol, no bairro Jardim Eldorado.

A denúncia foi oferecida à Justiça em 3 de outubro deste ano. A reportagem tentou contato com o delegado, mas as chamadas foram rejeitadas e não houve retorno. O advogado responsável pela defesa do delegado e dos policiais envolvidos não atendeu e nem retornou as chamadas.

Em nota, a Associação dos Delegados de Polícia Civil do Acre (Adepol) manifestou apoio ao delegado Karlesso Nespoli e disse que ele denunciou o caso à Corregedoria, na época dos fatos.

“Karlesso teve atuação imparcial no referido caso em que, imediatamente, após tomar conhecido do possível fato irregular comunicou o órgão correcional, que possui atribuição legal para investigar a conduta dos policiais envolvidos”, diz a nota.

O secretário de Polícia Civil, Carlos Flávio Portela, também foi procurado e informou que não poderia se pronunciar, pois até o dia 31 de dezembro ele é autoridade julgadora em eventual processo no âmbito administrativo, se houver. “Então, não posso me manifestar sobre o caso”, afirma.

Já o corregedor-geral da Polícia Civil, Alex Cavalcante, diz que possui conhecimento e acompanha o caso, mas que não pode se pronunciar, pois o processo corre em segredo de justiça. “Como já está na fase judicial, eu estaria até cometendo um crime se tivesse falando qualquer coisa sobre ele”, destaca.

Tortura

Conforme a denúncia, a vítima, na época com 17 anos, foi levada de dentro de casa sem que houvesse ordem judicial ou situação de flagrante e emergência. Os policiais teriam arrombado as portas da casa e vasculhado o local, em seguida levaram a vítima em viaturas descaracterizadas.

Além disso, eles teriam se apropriado de R$ 900 que pertenciam à proprietária da casa, um televisor de 16 polegadas. Sendo que outros objetos levados foram apresentados como se estivessem sido achados em outros locais.

Após ser torturado, o jovem foi liberado na Estrada do Panorama, no bairro São Francisco, duas horas após ser tirado de casa. A denúncia do MP-AC afirma que o adolescente sofreu lesão corporal gravíssima com emprego de violência física.

Em um dos trechos da denúncia, o MP-AC diz que a vítima relatou ter sido mantida em cárcere privado e que, por meio de ameças, o agrediram com uma barra de ferro e introduziram no ânus dele. As agressões, segundo o órgão, foram confirmadas por exames médicos de corpo de delito.

A intenção da tortura, segundo o MP, era fazer com que o jovem desbloqueasse o celular que estava com ele para obterem informações.

Omissão

Ainda segundo o MP, o delegado Karlesso Nespoli se omitiu em instaurar um procedimento para apurar o caso. Porém, o órgão afirma ter apurado que o delegado sabia da operação que resultou na tortura do jovem.

Mas, de acordo com o depoimento da vítima, o delegado não só tinha conhecimento da operação, mas também atuou e coordenou as ações efetivamente.

Além disso, teria se reunido com os policiais denunciados para tratar do assunto, solicitando a outras delegacias que fossem cedidos policiais e deu entrevista sobre a apreensão feita alegando que os objetos foram apreendidos durante uma operação e pertenciam à vítima.

No processo, o MP pede prisão de quatro anos, que os denunciados sejam citados à acusação para responderem por escrito e designação de audiência de instrução e julgamento. Além disso, deve ser fixado um valor para reparação dos danos causados pelos crimes.

Adepol manifesta apoio a delegado

A Adepol/AC, entidade de classe que representa os delegados de Polícia Civil do Estado, tratou de manifestar seu “total e irrestrito apoio” a Karlesso.

Na nota, a Adepol afirma que o Dr. Karlesso, “um dos mais atuantes e respeitados delegados do Estado, teve atuação imparcial no referido caso, em que imediatamente após tomar conhecimento do possível fato irregular comunicou o órgão correcional, que possui atribuição legal para investigar as condutas dos policiais”.

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