Esporte: Estupro descartado e seis presos : o que se sabe sobre a morte de Daniel Jagador do São Paulo
A morte do jogador Daniel se tornou uma sucessão versões que logo se provam contraditórias. Elas se multiplicam para justificar uma morte brutal que incluiu uma sessão de espancamento, tentativa de degola e mutilação de um jovem de 24 anos.
Duas semanas após o crime, uma série de avanços foi feita pela investigação, que prendeu seis pessoas e interrogou diversas testemunhas. Confira abaixo o que se sabe sobre o crime.
Seis suspeitos foram presos
Edison Brittes Júnior assumiu a autoria do assassinato e foi um dos primeiros a serem presos, ao lado da mulher Cristiana e a filha Allana - detidas por terem tentado encobrir o crime que ocorreu durante as comemorações pelo aniversário de 18 anos da garota.
Também foram presos um primo de Cristiana e dois amigos dos tempos de escola de Allana, que teriam participado do espancamento e acompanhado Edison de carro até o local em que Daniel foi morto. Delegado responsável pela investigação, Amadeu Trevisan já adiantou que todos os suspeitos serão indiciados por homicídio qualificado.
Hipótese de estupro é descartada
Principal argumento da defesa dos acusados, a tese de estupro foi descartada pela polícia. Edison alega ter cometido o crime num acesso de raiva após flagrar o jogador tentando abusar de Cristiana. O promotor João Milton Salles, porém, afirmou que esta possibilidade é "humanamente impossível". A primeira justificativa é o teor alcoólico muito elevado de Daniel, 13,4 dg/l (decigramas de álcool por litro de sangue). Para efeito de comparação, a Organização Mundial de Saúde recomenda um máximo de 0,5 dg/l para motoristas.
O promotor ainda acrescentou que o local, uma casa com várias pessoas, não é o ambiente em que um estuprador agiria. Por fim, disse que o perfil de Daniel não corresponde ao de autores de crimes sexuais.
O delegado responsável pela investigação, Amadeu Trevisan, contou que nenhuma testemunha que estava na casa escutou os gritos de socorro que Juninho afirma que a mulher deu. Uma testemunha afirmou que o único grito que ouviu foi de Cristiana pedindo para pararem de bater em Daniel.
O delegado fala que houve um assassinato sem chance de defesa. "Pode-se colocar uma qualificadora. A vítima estava completamente indefesa, com 13,4 dg/l de álcool no sangue. E também foram quatro pessoas que dominaram a vítima: o David, o Eduardo, o Igor e mais o Edison."
Mulher levou celular para conserto
Passados quatro dias do assassinato do ex-jogador do São Paulo, Cristiana Brittes levou o próprio celular para a assistência técnica.Ela alegou que havia problemas no microfone e na reprodução de áudio. Imagens do circuito de segurança do estabelecimento mostram um cachorro e o casal Brittes no sofá vermelho da sala de espera de uma loja de Curitiba.
Eles estiveram no local no dia 31 de outubro. O proprietário disse que o aparelho foi entregue no fim do dia e não houve tempo hábil para qualquer procedimento. Na sequência, ele soube que Cristiana era suspeita do homicídio de Daniel, ocorrido quatro dias antes, e não mexeu no celular.
O aparelho foi entregue à Polícia Civil. O delegado Amadeu Trevisan confirmou a apreensão e acrescentou que o chip não foi trocado. O dono da assistência técnica prestou depoimento e a Justiça foi acionada para autorizar uma perícia no aparelho.
Moto de Juninho pertence a traficante
Logo na semana do crime, foi revelado que Juninho Riqueza se envolveu num caso de receptação dolosa em 2015. Na última sexta-feira, surgiu outro fato que pode complicar a situação de Edison. A moto que ele usava estava registrada em nome de um homem condenado por tráfico de drogas.
Celso Alexandre Pacheco de Quevedo cumpre pena de 43 anos de prisão por comércio de entorpecentes. As redes sociais de Juninho Riqueza e da mulher tinham uma foto do casal em uma Honda CBR 1000, capaz de atingir os 300 km/h, e que está no nome do criminoso.
Sobre a receptação, denúncia do Ministério Público apontou que Edison foi levado à delegacia por causa da posse de um Hyndai Sonata que sabia ser roubado. Os investigadores verificaram que o chassis foi adulterado.
Jovens foram obrigados a acompanhar assassino
Daniel apanhou de, pelo menos, quatro pessoas na casa dos Brittes. Ele estava bastante machucado, mas ainda respirava quando foi colocado no porta-malas do Veloster de Juninho Riqueza. O delegado Amadeu Trevisan afirmou que dois jovens amigos de Allana foram obrigados a entrar no carro. "O Edison praticamente intima quem vai no carro com ele", disse o coordenador das investigações.
Dois jovens eram amigos de colégio de Allana, Igor Kyng e David Willian Vollero. O outro era Eduardo Henrique Ribeiro da Silva, primo de Cristiana. Ele e Edison desceram do carro e teriam tirado Daniel do porta-malas. Os amigos de escola, que teriam participado da sessão de espancamento, ficaram no carro porque o assassino ameaçou que teriam o mesmo fim se descessem.
A dupla contou que ouviu alguns murmúrios e depois um som como se alguém estivesse sendo estrangulado. Eduardo Henrique foi preso em Foz do Iguaçu (PR) e transferido para São José dos Pinhais na sexta. Ele vai prestar depoimento na próxima semana. Igor e David afirmaram que queriam abandonar Daniel nu no meio da rua para que fosse humilhado.
Filhos de políticos são citados
Em seu depoimento, Juninho tentou justificar as mudanças em suas versões sobre o crime. Ele alega ter mentido para proteger rapazes envolvidos no espancamento do jogador e outras pessoas que estavam na casa. Entre os citados estão dois irmãos gêmeos filhos de um casal de políticos de São José dos Pinhais. Segundo Brittes, um deles participou das agressões a Daniel e quebrou o celular da vítima.
Advogado dos gêmeos, Ricardo Dewes alega que seus clientes estavam "no lugar errado, na hora errada" e nega qualquer participação deles no crime. O delegado do caso, porém, deve colher novo depoimento da dupla na próxima semana.
Mãe e irmão de Daniel são ouvidas
Na quinta-feira, a Polícia Civil começou a ouvir os depoimentos dos familiares de Daniel Corrêa. A mãe e a tia passaram toda a tarde na delegacia. O conteúdo do que elas falaram não foi divulgado.
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