Comunidade escolar do Acre reage à proposta de ministro da Educação

Comunidade escolar reage à proposta de ministro da Educação
Educadores, diretores de escolas e professores acreanos reagiram com indignação à sugestão do novo ministro da Educação, Vélez Rodrigues, para que os diretores e coordenadores de escolas públicas filmassem os alunos cantando o hino nacional.    No mesmo comunicado, o ministro pedia que os diretores encerrassem a solenidade cívica com a leitura de uma carta de seu próprio punho que exaltava o novo modelo educacional implantado, inclusive o mote da campanha de Bolsonaro: "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!"
A professora Rosana Nascimento, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Acre, disse que a obrigatoriedade do slogan da campanha eleitoral é uma “grande babaquice”.  Destacou que é importante a valorização cívica, mas não deve ocorrer de forma impositiva, pois enfrentará uma grande resistência da comunidade escolar. 
A melhoria da educação pública, segundo a sindicalista, passa pelas melhores condições de trabalho dos trabalhadores em educação, a valorização profissional dos servidores e a segurança no entorno da escola. “Temos questões mais urgentes para serem tratadas para a melhoria da qualidade da nossa educação”, comentou a sindicalista.
Para a professora Iris Célia Cabanellas Zanine, presidente do Conselho Estadual de Educação, a medida impositiva do ministro gerou constrangimento, pois as escolas têm autonomia.
Explicou que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) que estabelece todas as normas que regulamenta a educação básica no país. “Na década de noventa o então prefeito Jorge Kalume baixou um decreto municipal determinando a obrigatoriedade do hasteamento da bandeira e o canto do hino nacional, mas medida não pegou nas escolas da rede municipal”, recordou a professora aposentada.
O professor Eurico Paz sugeriu que a categoria deveria filmar a situação precária das escolas e as condições de trabalho que estão submetidos os trabalhadores em educação, para enviar para o ministro da Educação.
Salientou que em muitos casos, alguns professores chegam a ser agredidos moralmente e fisicamente por alunos descontentes com o desempenho escolar, enquanto em outros colegas precisam de fazer bicos para melhorar o rendimento salarial para pagar as contas no fim do mês.
“Se não bastasse as condições precária de trabalho, agora temos de bater palmas para um governo que nos tira os últimos direitos”, desabafou nas redes sociais. 
De acordo com o diretor do Colégio Objetivo, Odivan Marques a obrigatoriedade de filmar os alunos não pegou bem, porque a medida viola o artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que assegura a preservação da imagem e da identidade dos alunos.
Disse que em sua escola os estudantes cantam o hino nacional e recitam os 10 mandamentos bíblicos por uma questão de cidadania, com o consentimento dos pais. “Há 28 anos que antes de começar as aulas fazemos esta saudação cívica”, comentou.
Repercussão - Em pronunciamento na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac), o ex-secretário estadual de Educação, deputado Daniel Zen, disse que a determinação do atual ministro fere a autonomia pedagógica das escolas, inclusive o artigo 37 da Constituição Federal, por manter em documento público do governo, o slogan de campanha do Bolsonaro. “Isso, além de baboseira e idiotice, é um crime”, desabafou.
O parlamentar apontou que outro crime da mais alta gravidade é a recomendação de filmar as crianças. “Será que esse ministro não sabe o que é direito de imagem e que é proibido filmar crianças em quaisquer circunstâncias?”, questionou Zen, em tom de indignação.
Em nota, o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed) destacou que a ação fere não apenas a autonomia dos gestores, mas dos entes da Federação. "O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária", ressalta o documento. Para a direção do Consed, o Brasil precisa, "ao contrário de estimular pequenas disputas ideológicas na Educação, priorizar a aprendizagem".

(Com informações do jornal A Tribuna)

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