Bolsonaro não é culpado pelo massacre, mas tem algo em comum com os atiradores.
Por Daniel Trevisan,DCM
É natural que as pessoas tentem buscar explicações para o massacre na escola Raul Brasil, em Suzano. Mas, um dia depois, já é possível detectar alguns exageros.
O maior deles é tentar associar o massacre aos jogos eletrônicos que estimulam a violência, como fez o vice-presidente, Hamílton Mourão.
Jogos existem em todos os países, mas por que só geram atiradores nos Estados Unidos e agora também no Brasil?
Não faz sentido, como observou o ex-senador Roberto Requião em postagem na rede social.
Por outro lado, há uma corrente que associa o crime ao bullying que um dos atiradores teria sofrido na escola, o que, de certa forma, criminaliza as vítimas.
A velha imprensa, de maneira geral, tem seguido este caminho. É a manchete da Folha de S. Paulo hoje.
Essa linha de cobertura é tentadora, mas incompleta e injusta.
Promove o criminoso e —por que não dizer? — estimula ações desse tipo.
Nos Estados Unidos, existe um debate sério sobre a inconveniência de promover autores de massacres.
É claro que não se busca lá a censura, mas um chamado à responsabilidade.
No caso de Suzano, um dos assassinos influenciou fortemente a narrativa pós-mortem com a sequência de fotos que postou no Facebook minutos antes de iniciar a carnificina.
Foi teatral.
Colocou um lenço de caveira e, com o dedo médio, mandou um recado ao público: danem-se.
Olha aí a próxima chacina em gestação. O atirador de Suzano se tornou celebridade.
Tinha uma vida banal, como a maioria dos jovens, jogava games e se sentia abandonado pelos pais.
À custa da vida e da mutilação de outros jovens, sua vida comum, quase invisível na cidade periférica em que morava, encontrou a fama.
Perverso, mas fato.
Nunca se conseguirá impedir a divulgação de fotos como as postadas pelo assassino. É relevante.
Mas falta equilíbrio na cobertura do massacre.
Falta também um debate elevado sobre o que leva a esse comportamento.
Jogos não têm esse impacto, a menos que se considerem os jogos dentro de um ambiente maior, o da cultura da violência.
Este é o ponto.
E o Brasil, assim como os Estados Unidos, vive esse drama.
É leviano responsabilizar o massacre de Suzano à figura sinistra de Jair Bolsonaro. Tão sinistra quanto o lenço de caveira usado por um dos assassinos.
Jair Bolsonaro, entretanto, não é culpado.
É preciso considerar que ambos são reflexos da cultura da violência que se valoriza no Brasil e também nos Estados Unidos.
Bolsonaro, nesse aspecto, é um faraó, o ocupante da pirâmide mais alta. Um homem que estimula crianças a fazer o gesto de arminha com as mãos.
Portanto, não é uma constatação irrelevante que o criminoso tenha compartilhado pelo menos uma postagem agressiva e contrária a direitos humanos de Eduardo Bolsonaro.
O mundo deles é o de desprezo pela vida humana, próprio de quem vê o caído como um ser irrecuperável, uma coisa a ser removida.
E são, cada um a seu modo, narcisistas extremados.
São pessoas que aplaudem a execução de jovens na periferia pela polícia ou por milicianos. Acreditam que a solução de um problema está no pente de um arma automática ou no tambor de um revólver.
Não foi à toa que os dois jovens se suicidaram — ou um atirou no outro e se matou — quando se depararam com a polícia no interior da escola.
É como se dissessem:
“Sei que vocês não compreendem nossos motivos, mas não somos adversários, somos parceiros. Deixe que fazemos isso por vocês”.
E fim.
Por Daniel Trevisan,DCM
É natural que as pessoas tentem buscar explicações para o massacre na escola Raul Brasil, em Suzano. Mas, um dia depois, já é possível detectar alguns exageros.
O maior deles é tentar associar o massacre aos jogos eletrônicos que estimulam a violência, como fez o vice-presidente, Hamílton Mourão.
Jogos existem em todos os países, mas por que só geram atiradores nos Estados Unidos e agora também no Brasil?
Não faz sentido, como observou o ex-senador Roberto Requião em postagem na rede social.
Por outro lado, há uma corrente que associa o crime ao bullying que um dos atiradores teria sofrido na escola, o que, de certa forma, criminaliza as vítimas.
A velha imprensa, de maneira geral, tem seguido este caminho. É a manchete da Folha de S. Paulo hoje.
Essa linha de cobertura é tentadora, mas incompleta e injusta.
Promove o criminoso e —por que não dizer? — estimula ações desse tipo.
Nos Estados Unidos, existe um debate sério sobre a inconveniência de promover autores de massacres.
É claro que não se busca lá a censura, mas um chamado à responsabilidade.
No caso de Suzano, um dos assassinos influenciou fortemente a narrativa pós-mortem com a sequência de fotos que postou no Facebook minutos antes de iniciar a carnificina.
Foi teatral.
Colocou um lenço de caveira e, com o dedo médio, mandou um recado ao público: danem-se.
Olha aí a próxima chacina em gestação. O atirador de Suzano se tornou celebridade.
Tinha uma vida banal, como a maioria dos jovens, jogava games e se sentia abandonado pelos pais.
À custa da vida e da mutilação de outros jovens, sua vida comum, quase invisível na cidade periférica em que morava, encontrou a fama.
Perverso, mas fato.
Nunca se conseguirá impedir a divulgação de fotos como as postadas pelo assassino. É relevante.
Mas falta equilíbrio na cobertura do massacre.
Falta também um debate elevado sobre o que leva a esse comportamento.
Jogos não têm esse impacto, a menos que se considerem os jogos dentro de um ambiente maior, o da cultura da violência.
Este é o ponto.
E o Brasil, assim como os Estados Unidos, vive esse drama.
É leviano responsabilizar o massacre de Suzano à figura sinistra de Jair Bolsonaro. Tão sinistra quanto o lenço de caveira usado por um dos assassinos.
Jair Bolsonaro, entretanto, não é culpado.
É preciso considerar que ambos são reflexos da cultura da violência que se valoriza no Brasil e também nos Estados Unidos.
Bolsonaro, nesse aspecto, é um faraó, o ocupante da pirâmide mais alta. Um homem que estimula crianças a fazer o gesto de arminha com as mãos.
Portanto, não é uma constatação irrelevante que o criminoso tenha compartilhado pelo menos uma postagem agressiva e contrária a direitos humanos de Eduardo Bolsonaro.
O mundo deles é o de desprezo pela vida humana, próprio de quem vê o caído como um ser irrecuperável, uma coisa a ser removida.
E são, cada um a seu modo, narcisistas extremados.
São pessoas que aplaudem a execução de jovens na periferia pela polícia ou por milicianos. Acreditam que a solução de um problema está no pente de um arma automática ou no tambor de um revólver.
Não foi à toa que os dois jovens se suicidaram — ou um atirou no outro e se matou — quando se depararam com a polícia no interior da escola.
É como se dissessem:
“Sei que vocês não compreendem nossos motivos, mas não somos adversários, somos parceiros. Deixe que fazemos isso por vocês”.
E fim.
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