O som de panelas irrompeu neste domingo (31) em várias zonas de Caracas, em protesto contra os consecutivos apagões na Venezuela desde 7 de março. Ainda falta energia elétrica e água em diversas regiões venezuelanas.
"Novamente um apagão nacional está afetando nossa qualidade de vida", disse à agência France Presse o advogado Joaquín Rodríguez de 54 anos. Ele participou de um protesto em Los Palos Grandes, um dos bairros mais abastados da capital Caracas.
"Não temos água, não temos luz, não temos internet, não temos telefones, estamos sem comunicação. Chegamos à pior situação que podíamos imaginar", reclamou Rodríguez.
No sábado, o autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, pediu aos opositores de Maduro que saíssem às ruas todas as vezes que houvesse falhas elétricas e de água – que também está em grave escassez.
Em estados como Zulia, os racionamentos já duram uma década. "Estamos há seis noites sem luz, estamos na era das cavernas", afirmou Chiquinquirá Bermúdez, habitante de Los Puertos de Altagracia, próximo à capital Maracaibo.
A manifestante Dina de Ornella alertou para a gravidade do colapso humanitário na Venezuela. "Que a comunidade internacional se dedique a nós, porque estamos morrendo, as pessoas estão morrendo nos hospitais", pediu.
"Estão abandonando as crianças nas ruas porque não há alimentos, por favor, nos ajudem", afirmou Dina de Ornella.
Repressão violenta
Em alguns setores da capital, grupos de civis armados conhecidos como coletivos reprimiram os protestos. Eles receberam autorização do próprio Nicolás Maduro para conter os manifestantes.
"Há forte repressão de coletivos encapuzados com armas disparando contra a população", afirmou um habitante de Cotiza, um setor popular de Caracas onde foram registradas manifestações espontâneas contra os apagões.
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Mauricio Marcano, comerciante de 30 anos, também denunciou a presença de coletivos armados que reprimiam protestos no centro de Caracas, onde policiais bloquearam algumas ruas para contê-los.
Regime Maduro acusa 'sabotagem'
Mais uma vez, o regime de Nicolás Maduro insiste na versão de que o blecaute ocorre em decorrência de uma sabotagem. Depois do novo apagão que começou na noite de sábado, o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, acusou novamente "obstrução criminosa".
"[O regime] denuncia a infame e brutal perpetração de dois ataques programados e sincronizados contra o sistema elétrico nacional para obstruir de forma criminosa e homicida os imensos esforços do governo (...) para estabilizar o serviço de energia elétrica", afirmou à televisão governamental.
Ainda assim, o regime de Maduro decretou, neste domingo, a redução da jornada de trabalho e a suspensão das aulas devido ao agravamento dos apagões.
"Para conseguir consistência na prestação do serviço elétrico, o governo bolivariano decide manter suspensas as atividades escolares e estabelece a jornada de trabalho diária até as 14h em instituições públicas e privadas", informou Rodríguez, em declarações transmitidas pela televisão pública.
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