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Venezuela vive dias de confrontos entre forças do Governo e da oposição

JORNAL NACIONAL

Venezuela vive dia de confrontos entre forças do governo e da oposição

Líder da oposição, Juan Guaidó, convocou a população para ir às ruas, afirmando que tinha o apoio de militares. Forças leais ao presidente Nicolás Maduro reagiram com violência.

Por Jornal Nacional

Venezuela vive dia de confrontos entre forças do governo e da oposição
A Venezuela vive um cenário de incerteza. No fim da madrugada desta terça-feira (30), o líder da oposição, Juan Guaidó, anunciou a chamada Operação Liberdade, para derrubar Nicolás Maduro. Guaidó disse que tinha o apoio de militares, mas Maduro reagiu e reafirmou que os comandantes das Forças Armadas são leais ao governo dele. Nas Nações Unidas, o embaixador venezuelano disse que Maduro controlou uma tentativa de golpe, que teve apoio americano.
Na noite desta terça, o clima no país é de tensão e expectativa. De um lado, há um grupo de militares de baixa patente apoiando a oposição e, de outro, há generais aliados a Maduro declarando que a oposição fracassou na tentativa de tomar o poder.
Estava previsto que o auto-proclamado presidente interino, Juan Guaidó, fizesse um discurso durante a noite, mas isso não aconteceu e, desde o meio da tarde, o paradeiro de Guaidó é desconhecido. Nicolas Maduro, até agora, também não apareceu em público.
O ministro de relações exteriores de Maduro, Jorge Arreaza, disse que a tentativa de golpe foi planejada pelo governo americano. Em Nova York, o representante do governo Maduro nas Nações Unidas também culpou os Estados Unidos e criticou governos latino-americanos, incluindo o Brasil, pelo apoio a Guaidó. O secretário-geral da Onu pediu que os dois lados evitem a violência.
A população foi às ruas em várias cidades do país. Como a comunicação é muito precária no país, há poucas informações sobre a situação fora de Caracas. Na capital, ainda há manifestantes nas ruas. Depois de cenas de violência que chocaram o mundo, serviços de saúde informaram que 69 pessoas ficaram feridas durante os confrontos. Duas delas foram baleadas.
A violência começou logo depois que Guaidó convocou a população a agir. Amanhecia quando o autoproclamado presidente interino anunciou em uma rede social a fase final do que chamou de Operação Liberdade. Ele estava do lado de fora da base aérea militar de La Carlota, em Caracas.

“Hoje, nossas Forças Armadas, valentes soldados, patriotas corajosos e apegados à Constituição, responderam ao nosso chamado. O fim da usurpação começou”, disse Guaidó.
A oposição se refere a Nicolás Maduro como usurpador do poder na Venezuela, depois que ele foi reeleito em 2018. Guaidó disse ainda que pretende anistiar todos os presos políticos, civis e militares. Reafirmou que o movimento é em defesa da Constituição e da democracia e convocou os venezuelanos a tomarem as ruas.
Atrás de Guaidó estava outro importante líder da oposição, Leopoldo Lopez, que estava em prisão domiciliar e foi libertado por militares durante a madrugada. Lopez disse que o processo de mudança é irreversível. “O povo e as Forças Armadas vão implantar a transição e eleições livres”, afirmou.
Aos poucos, manifestantes começaram a sair às ruas em resposta ao chamado de Juan Guaidó. Militares usavam faixas azuis nos braços e no rosto - um sinal de apoio ao líder opositor.
Apoiadores de Juan Guaidó derrubaram parte de uma grade e entraram à força na base aérea de La Carlota. Houve um princípio de incêndio e uma fumaça negra saía de uma das mais importantes bases da Venezuela.
No fim da manhã, a situação parecia fora de controle em Caracas. A violência tomou conta da capital. Alguns manifestantes davam pauladas e jogavam pedras contra as forças do governo. Blindados avançaram sobre a multidão e chegaram a atropelar um grupo de pessoas.
Militares abriram fogo contra a população em vários pontos da cidade. Civis armados responderam com mais tiros. As forças leais a Maduro lançaram bombas de gás lacrimogêneo. Houve confronto, correria e pânico. Muitos tiveram que se proteger das bombas.
Carros e ônibus foram incendiados. Manifestantes e militares circulavam de moto pela capital. Milhares de apoiadores de Juan Guaidó também foram à Praça Altamira, que fica perto da base aérea, e a cerca de dez quilômetros da sede do governo. De lá, Guaidó conclamou os venezuelanos a resistir e voltou a convocar os militares a se juntarem à luta pelo povo da Venezuela.
Perto do palácio presidencial de Miraflores, manifestantes demonstraram apoio ao governo de Nicolás Maduro. Um venezuelano disse: “Estamos aqui para defender o legado do ex-presidente Hugo Chávez e apoiar o único presidente legítimo da Venezuela”.
Maduro se manifestou por uma rede social. Disse que conversou com “todos os líderes do comando estratégico operacional, um dos seis braços das Forças Armadas” e que eles manifestaram total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria. “Conclamo a máxima mobilização popular para assegurar a vitória da paz. Venceremos”, escreveu Maduro.
O ministro da Defesa de Maduro, Vladimir Padrino, foi a uma base militar em Caracas onde fez um apelo à calma e à sensatez. Ao lado dos principais comandantes militares do país, Padrino disse: “Não vamos permitir qualquer agressão contra a democracia e a Constituição. As armas da república vão defender a soberania e a independência”.
O ministro afirmou ainda que um coronel foi ferido no pescoço e responsabilizou a oposição por um possível derramamento de sangue. O líder do comando estratégico operacional declarou: “Estamos vencendo contra um minúsculo grupo de desorientados e enganados. Lutaremos para manter a paz”.
A internet está funcionando precariamente no país, dificultando a comunicação e as iniciativas de mobilizar os venezuelanos que se opõe ao governo. A rádio Caracas recebeu uma ordem do governo para interromper as operações. Canais internacionais de notícia também ficaram fora do ar.
Ao longo do dia, a grande dúvida era sobre o tamanho do apoio que Juan Guaidó conseguiria entre os militares, algo decisivo para implantar um governo de transição. Outra preocupação era com as milícias armadas criadas por Nicolás Maduro, conhecidas como “colectivos”, que permaneceram leais ao governo.
No meio da tarde, o ministro de Relações Exteriores do Chile confirmou que o líder oposicionista Leopoldo Lopez pediu refúgio na embaixada chilena em Caracas junto com a família.
Vinte e cinco militares que apoiaram Guaidó pediram asilo na embaixada brasileira na Venezuela.

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