Em pronunciamento na TV, Bolsonaro muda o tom e não critica o isolamento social
Presidente fez o quarto pronunciamento em rede de TV sobre a crise do coronavírus. Ele é dos poucos chefes de Estado que defende a retomada da atividade econômica em meio à pandemia.
GLOBO.COM
O presidente Jair Bolsonaro fez nesta terça-feira, em rede nacional de televisão, o quarto pronunciamento sobre a crise do coronavírus. Desta vez, ele não criticou diretamente o isolamento social como forma de conter a pandemia, método defendido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo próprio Ministério da Saúde. No último dia 24, ele chegou a pedir na TV a “volta à normalidade” e o fim do “confinamento em massa”.
Nesta terça, diferentemente do que fez pela manhã, na portaria do Palácio da Alvorada, Bolsonaro não usou a interpretação equivocada da fala do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, para criticar o isolamento social. Bolsonaro é um dos poucos chefes de Estado no mundo que defende a retomada da atividade econômica em meio à pandemia do coronavírus.
À noite, na TV, ele recorreu a trechos de uma fala de Adhanom, mas não criticou diretamente as medidas de isolamento. O presidente se disse preocupado com a vida e também com a manutenção dos empregos. Afirmou que o remédio não pode ser pior que os efeitos que a pandemia provocará.
“Minha preocupação sempre foi salvar vidas. Tanto as que perderemos pela pandemia como aquelas que serão atingidas pelo desemprego, violência e fome”, afirmou.
Ele disse não pretender negar a importância das medias preventivas, mas ressalvou que é preciso pensar nos cidadãos “mais vulneráveis”.
“Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que, da mesma forma, precisamos pensar nos mais vulneráveis. Essa tem sido a minha preocupação desde o princípio. O que será do camelô, do ambulante, do vendedor de churrasquinho, da diarista, do ajudante de pedreiro, do caminhoneiro e dos outros autônomos, com quem venho mantendo contato durante toda minha vida pública?”
Bolsonaro elencou as medidas que o governo já tomou e destacou o congelamento dos preços dos remédio por 60 dias, que ele próprio anunciou nesta terça.
O presidente disse ter como missão “salvar vidas, sem deixar para trás os empregos”.
“Por um lado, temos que ter cautela e precaução com todos, principalmente junto aos mais idosos e portadores de doenças pré-existentes. Por outro, temos que combater o desemprego que cresce rapidamente, em especial entre os mais pobres”, disse.
Segundo afirmou no pronunciamento, Bolsonaro considera que o efeito colateral das medidas de combate ao coronavírus “não pode ser pior que a própria doença”.
O pronunciamento desta terça foi o quarto de Bolsonaro sobre o coronavírus. No primeiro, no último dia 6, o presidente disse que não havia motivo para pânico, mesmo que o problema do coronavírus se agravasse. No segundo, dia 12, disse que as manifestações previstas para o dia 15 eram “legítimas” e “espontâneas”, mas deveriam ser repensadas – o presidente participou do ato em Brasília. No terceiro, dia 24, pediu a “volta à normalidade”, o fim do “confinamento em massa” e afirmou que a impressa espalhou “pavor”. Esse pronunciamento gerou forte repercussão entre políticos, partidos e entidades de diversos setores da sociedade.
Íntegra
Leia abaixo a íntegra do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro:
Boa noite.
Venho, nesse momento importante, me dirigir a todos vocês. Desde o início do governo, temos trabalhado em todas as frentes para sanar problemas históricos e melhorar a vida das pessoas.
O Brasil avançou muito nesses 15 meses. Mas agora, estamos diante do maior desafio da nossa geração.
Minha preocupação sempre foi salvar vidas. Tanto as que perderemos pela pandemia como aquelas que serão atingidas pelo desemprego, violência e fome.
Me coloco no lugar das pessoas e entendo suas angústias. As medidas protetivas devem ser implementadas de forma racional, responsável e coordenada.
Nesse sentido, o senhor Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, disse saber que muitas pessoas de fato têm que trabalhar todos os dias para ganhar seu pão diário. E que os governos têm que levar essa população em conta.
Continua ainda: se fecharmos ou limitarmos movimentações, o que acontecerá com essas pessoas que tem que trabalhar todos os dias e que têm que ganhar o pão de cada dia, todos os dias?
Ele prossegue: então cada país, baseado em sua situação, deveria responder a essa questão. O diretor da OMS afirma ainda que, com relação a cada medida, temos que ver o que significa para o indivíduo nas ruas.
E complementa: eu venho de família pobre, eu sei o que significa estar sempre preocupado com seu pão diário. Isso deve ser levado em conta, porque todo indivíduo importa. A maneira como cada indivíduo é afetado pelas nossas ações tem que ser considerada.
Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que, da mesma forma, precisamos pensar nos mais vulneráveis.
Essa tem sido a minha preocupação desde o princípio. O que será do camelô, do ambulante, do vendedor de churrasquinho, da diarista, do ajudante de pedreiro, do caminhoneiro e dos outros autônomos, com quem venho mantendo contato durante toda minha vida pública?
Por isso, determinei ao nosso ministro da Saúde que não poupasse esforços, apoiando através do SUS todos os estados do Brasil. Aumentando a capacidade da rede de saúde e preparando-a para o combate à pandemia.
Assim, estão sendo adquiridos novos leitos, já com respiradores, equipamentos de proteção individual, kits para testes e demais insumos necessários.
Determinei, ainda, ao nosso ministro da Economia que adotasse todas as medidas possíveis para proteger sobretudo o emprego e a renda dos brasileiros.
Fizemos isso através de ajuda financeira aos estados e municípios. Linhas de créditos para empresas, auxiíio mensal de R$ 600 aos trabalhadores informais e vulneráveis. Entrada de mais de 1,2 milhão de famílias no programa Bolsa Família.
Adiamos também o pagamento de dívidas dos estados e municípios, só para citar algumas das medidas adotadas.
Além disso, no dia de hoje, em comum acordo com a indústria farmacêutica, decidimos adiar em 60 dias o reajuste de medicamentos no Brasil.
Temos uma missão: salvar vidas, sem deixar para trás os empregos. Por um lado, temos que ter cautela e precaução com todos, principalmente junto aos mais idosos e portadores de doenças pré-existentes. Por outro, temos que combater o desemprego que cresce rapidamente, em especial entre os mais pobres.
Vamos cumprir essa missão, ao mesmo tempo em que cuidamos da saúde das pessoas.
O vírus é uma realidade. Ainda não existe vacina contra ele ou remédio com eficiência cientificamente comprovada, apesar de a hidroxicloroquina parecer bastante eficaz.
O coronavírus veio e, um dia, irá embora. Infelizmente, teremos perdas no caminho. Eu mesmo já perdi entes queridos no passado, e sei o quanto é doloroso. Todos nós temos que evitar, ao máximo, qualquer perda de vida humana.
Como disse o diretor-geral da OMS, todo indivíduo importa. Ao mesmo tempo, devemos evitar a destruição de empregos que já vem trazendo muito sofrimento para os trabalhadores brasileiros.
Na última reunião do G-20, nós, os chefes de Estado e de governo, nos comprometemos a proteger vidas e a preservar empregos. Assim o farei.
Desde fevereiro, determinei o emprego das Forças Armadas no combate ao coronavírus. O Ministério da Defesa realizou o resgate de brasileiros na China. Agora, as Forças Armadas atuam em apoio às áreas de saúde e segurança em todo o Brasil.
Foi ativado um centro de operações que coordena as ações e dez comandos conjuntos foram criados, cobrindo todo o território nacional. Realizam ações que vão desde a montagem de postos de triagem em pacientes, apoio a campanhas informativas e campanhas de vacinação, logística e transporte de medicamentos.
Os laboratórios químico-farmacêuticos militares entraram com força total. E, em 12 dias, serão produzidos 1 milhão de comprimidos de cloroquina, além de álcool em gel.
Repito: o efeito colateral das medidas de combate ao coronavírus não pode ser pior que a própria doença.
A minha obrigação como presidente vai para além dos próximos meses. Preparar o Brasil para a sua retomada, reorganizar a nossa economia e mobilizar todos os nossos recursos e energia para tornar o Brasil ainda mais forte após a pandemia.
Aproveito a oportunidade para me solidarizar e agradecer o empenho e sacrifício pessoal de todos os profissionais da saúde, da área de segurança, caminhoneiros e todos os trabalhadores de serviços considerados essenciais, que estão mantendo o país funcionando. Bem como aos homens e mulheres do campo, que produzem nossos alimentos.
Com esse mesmo espírito, agradeço e reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto para preservação da vida e dos empregos. Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade.
Deus abençoe o nosso amado Brasil.
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