Governo do Acre manda buscar jovens que estuda na Bolívia e estavam impedidos de sair do país por causa da covid-19
Grupo está com dificuldades financeiras e enfrentava quarentena severa no país vizinho. Pelo menos 80 estudantes vão voltar ao Acre com ajuda do governo.
Por Alcinete Gadelha, G1 AC — Rio Branco
Um grupo de pelo menos 80 estudantes que estava impedido de sair da Bolívia por causa da pandemiado novo coronavírus vai deixar a Bolívia e voltar para o Acre. Os estudantes, a maioria acreanos, fazem faculdade de medicina em duas cidades bolivianas, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba. Eles ficaram sem poder sair do país vizinho por causa docancelamento de voos e de circulação de ônibus.
Os estudantes saíram das duas cidades bolivianas nessa sexta-feira (9) com destino a Corumbá, no Mato Grosso do Sul, onde devem embarcar na segunda (13) em dois ônibus, um cedido pelo Instituto Federal do Acre (Ifac) e outro pela Universidade Federal do Acre (Ufac), que foram enviados à cidade na quinta (9) pelo governo do Acre. A previsão de chegada ao Acre é até a quarta (15).
A Bolívia já registra mais de 190 casos da Covid-19, tem 14 mortos, e está há mais de duas semanas em quarentena, sem acesso terrestre ou aéreo.
Desde o dia 19 de março, uma portaria do governo federal determinou ofechamento de fronteiras do Brasil com países vizinhos da América do Sul, em decorrência da pandemia de coronavírus, o que acabou agravando a situação dos estudantes.
“A gente estava impedido de voltar para o Brasil porque as viagens terrestres e os voos foram cancelados, então, estava impossível sair. Até que com esforço, depois de uma persistência do governo brasileiro, surgiu essa possibilidade de a gente sair por via transporte terrestre”, disse o estudante de 25 anos, Marcos Alirio, que comemora o retorno para casa.
Conversa
O governo informou que a saída dos estudantes foi possível após conversa com o grupo e com auxílio do deputado federal Alan Rick, que manteve diálogo com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e com o consulado do Brasil na Bolívia e pediu para que o governo do Acre viabilizasse essa transferência.
Os estudantes estão há cerca de 20 dias tendo que obedecer o toque de recolher e alguns, além da distância de casa, ainda enfrentam dificuldades financeiras.
A porta-voz do governo, Mirla Miranda, disse ao G1 que os motoristas foram cedidos pelo Instituto Estadual de Educação Profissional e Tecnológica (Ieptec) e pela Polícia Militar do Acre (MP-AC) para fazer o transporte dos alunos.
“O governador se sensibilizou imediatamente com a situação dos estudantes. Atendeu a solicitação do deputado Alan Rick, que já tem um trabalho em defesa desses estudantes brasileiros no exterior. O governo agradece o apoio da Ufac, Ifac que cederam os ônibus, também o Ieptec e Polícia Militar que cederam os motoristas para o transporte desses alunos”, pontuou.
Mirla disse ainda que os estudantes estavam em quarentena na Bolívia e também vão passar por uma triagem quando chegarem ao Acre, fazer exames, e devem permanecer em isolamento social.
O deputado Alan Rick explicou que há, no país vizinho, pelo menos 1,5 mil estudantes do Acre. Alguns estão conseguindo voltar por conta própria, após negociação e permissão da saída deles do país vizinho. Outros devem permanecer na Bolívia por vontade própria. Ele disse que esses 80 estudantes são alguns que estavam enfrentando dificuldades financeiras, outros têm problemas de saúde e também pessoas com crianças.
“Há pelo menos três semanas estamos em contato com os estudantes de medicina na Bolívia e eles relataram dificuldades em virtude da quarentena ser muito mais severa do que no Brasil”, disse o deputado acreano.
Além disso, os estudantes não estavam conseguindo fazer o câmbio do real, o que acabou agravando a situação deles.
“Sem conseguir fazer esse câmbio, eles estavam sem dinheiro para as necessidades mais básicas e vários deles entraram em contato comigo informando, inclusive, sobre não conseguirem sequer sair da Bolívia”, relatou.
A partir destes apelos, o deputado disse que fez contato com o Ministério das Relações Exteriores que viabilizou com o consulado brasileiro na Bolívia para que fosse liberada a saída dos estudantes.
Parceria
A reitora da Ufac, Guida Aquino, disse que o veículo foi cedido e o governo está cuidando da manutenção e motorista.
“Vamos combater essa pandemia tanto com a ciência, como com a solidariedade. Nesse momento, estamos fazendo isso, uma ação solidária, humanitária, para trazer esses estudantes”, disse a reitora.
A reitora do Ifac, Rosana Cavalcante, contou que recebeu o pedido para ceder o ônibus para buscar os estudantes e assim que foi feito, entrou em contato com o diretor do Campus em Rio Branco, Wemerson Fittipaldy, para que o veículo fosse disponibilizado.
“De pronto, a gente atendeu a solicitação, uma vez que esse é um momento de solidariedade e que as aulas foram suspensas na Bolívia e esses estudantes precisavam voltar para o Acre. É um momento em que todos precisam se ajudar”, disse.
Rotina
A estudante Daiana Bezerra, de 23 anos, estuda em Cochabamba e diz que eles precisam obedecer o toque de recolher e que só podem sair uma vez na semana para ir ao supermercado, conforme o número do documento de identidade boliviana.
Ela comemora que vai conseguir retornar ao Acre para ver a família e esperar que a situação possa voltar ao normal e ela consiga terminar a faculdade de medicina.
“Cada um tem um dia específico para sair. Eu, por exemplo, só às quartas-feiras, isso só até o meio-dia. Se o policial te vir no meio da rua, alguns te dão um toque, outros já multam e o valor é 1 mil bolivianos”, conta a estudante.
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